Envie artigo para: techne@pini.com.br.
O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço).
Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG
O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço).
Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG
André Nagalli
Professor-doutor do departamento acadêmico de construção civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) nagalli@utfpr.edu.br
Professor-doutor do departamento acadêmico de construção civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) nagalli@utfpr.edu.br
Rafaela Miyuki Hamaya
Estudante de engenharia de produção civil da UTFPR rafaela_hamaya@yahoo.com.br
Estudante de engenharia de produção civil da UTFPR rafaela_hamaya@yahoo.com.br
Em um país em
desenvolvimento como o Brasil, é natural o crescimento da demanda por obras de
construção civil, tanto para fins habitacionais como de infraestrutura.
Progamas como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal,
linhas de crédito para compra da casa própria e obras para grandes eventos
esportivos foram fundamentais para o atual panorama da construção civil no
País. Juntamente com o crescimento do mercado da construção civil, agravaram-
se os problemas ambientais associados, principalmente no que diz respeito à
geração e ao gerenciamento de Resíduos de Construção e Demolição (RCD).
De acordo com a
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(Abrelpe, 2011), estima-se que, no Brasil, só no ano de 2011, os municípios
coletaram mais de 33 milhões de toneladas de RCD, o que representa cerca de 60%
de todo o resíduo sólido urbano coletado naquele ano.
O emprego da
madeira na construção civil, feito na forma de elementos temporários como
fôrmas, escoramentos e andaimes, ou na forma de elementos definitivos como
estruturas de coberturas, forros, pisos, esquadrias e acabamentos, gera grande
quantidade de resíduos, principalmente considerando que todos os elementos
temporários serão posteriormente descartados.
De acordo com
Miranda et al. (2009), os resíduos de madeira representam cerca de 31% de todo
o volume de resíduo de construção gerado numa obra de um edifício residencial.
Se considerada somente a fase de execução estrutural, podem chegar a
representar 42% dos resíduos gerados durante o processo em questão.
Apesar de existirem
diversas opções para destinação desses resíduos de madeira, muitas vezes a
destinação mais adequada não é realizada por ser inviável financeiramente, por
problemas de logística ou até por falta de tecnologia para tornar a ideia de
destinação viável, resultando numa grande quantidade de resíduos descartada sem
tratamento adequado ou sem nenhum tratamento.
Atualmente, com o
aumento das demandas ambientais e de ações fiscalizaAtualmente, com o aumento
das demandas ambientais e de ações fiscalizatórias, é bastante comum que as
construtoras destinem os resíduos de madeira de suas obras como fonte de
energia, por exemplo, para queima em olarias. Há casos em que tais resíduos são
destinados para queima em pizzarias, restaurantes ou fábricas de alimentos.
Na construção
civil, muitos resíduos de madeira gerados estão contaminados por outros
materiais, como tintas, graxas, pregos, parafusos e plásticos. Dessa forma, a
complexidade em qualificar os contaminantes presentes no material dificulta o
processo de beneficiamento, reutilização ou reciclagem. Para amenizar o
problema que esses resíduos representam ao meio ambiente, é necessário propor
maneiras eficientes de gerenciamento e reaproveitamento.
Diante dessa
realidade, este artigo busca contribuir com a caracterização do problema de
contaminação de resíduos de madeira associados à construção civil ao analisar
amostras provenientes de canteiros de obras na cidade de Curitiba, por meio de
levantamentos in loco da madeira a ser descartada.
Método
No intuito de caracterizar os resíduos de madeira de obras de construção civil, foi elaborado um plano de coleta e análise de dados, buscando representatividade das amostras nos canteiros de Curitiba.
No intuito de caracterizar os resíduos de madeira de obras de construção civil, foi elaborado um plano de coleta e análise de dados, buscando representatividade das amostras nos canteiros de Curitiba.
Foram analisadas
246 amostras de resíduos de madeira em seis canteiros de obras de edifícios
verticais em diferentes fases executivas. As obras analisadas possuem área
total construída variando entre 18.000 m² e 81.500 m², duração da obra variando
entre dois e cinco anos, número médio de funcionários de 200 a 350, com ou sem
certificações ISO 9.001 e do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade
do Habitat (PBQP-H).
Figura 1 - Distribuição de
amostras tipo simples segundo sua forma original
|
Figura 2 - Distribuição da
quantidade de contaminantes por amostra
|
As amostras foram
caracterizadas quanto às suas dimensões e à presença de contaminantes.
Classificaram- se ainda as peças em simples e compostas, considerando-se
compostas aquelas amostras que apresentam mais de uma peça, unidas por cola,
pinos metálicos etc.
Foram também
analisados os locais para armazenamento temporário dos resíduos na obra, as
destinações finais voltadas aos resíduos de madeira, tipos de desmoldantes
utilizados e levantados os responsáveis pelo sistema de gerenciamento de
resíduos. Os detalhes do método de pesquisa estão descritos em Lopes et al.
(2013).
Resultados
A seguir, estão apresentadas as análises e interpretações dos resultados encontrados nas amostragens. Na tabela 1, são apresentados os percentuais encontrados nos levantamentos de campo, segundo a classificação proposta. "Geral" corresponde à média relativa a todas as amostras.
A seguir, estão apresentadas as análises e interpretações dos resultados encontrados nas amostragens. Na tabela 1, são apresentados os percentuais encontrados nos levantamentos de campo, segundo a classificação proposta. "Geral" corresponde à média relativa a todas as amostras.
Depreende-se da
análise da tabela 1 que a maior parte dos resíduos de madeira (cerca de 80%)
nas obras analisadas refere-se a peças simples, isto é, não estão unidas a
outras peças por meio de pinos metálicos, cola etc. Essa informação sugere que
há desmontagem das estruturas de madeira, utilizadas como fôrmas e escoras na
própria obra, antes de seu armazenamento, o que pode contribuir para uma
destinação mais correta.
Do ponto de vista
de tipo de peça descartada, pode-se verificar na figura 1 que os painéis compensados representam cerca de 40% do total de resíduos
analisados considerados simples. Esse fator pode ser relacionado com a
abrangência de utilizações dentro de uma obra para o material citado, como em
bandejas de proteção, fôrmas e instalações provisórias. Especificamente na obra
A, a quantidade de painéis compensados representou uma porcentagem bem superior
à geral devido à coleta ter sido feita um dia após a desmontagem da bandeja de
proteção.
Estão apresentados
na figura 2 resultados sobre a quantidade de contaminantes por amostra. Ressalta-se
a informação de que apenas 7% das amostras não possuíam contaminantes, o que
mostra a necessidade de estudos sobre a criação de novos métodos de destino e a
necessidade de estimulá-los, principalmente após ficar evidente que a
destinação comum, a queima, não poderia ser utilizada em grande parte dos
resíduos.
Na figura 3, estão apresentadas as incidências de
cada contaminante analisado para os dados coletados. Para essa porcentagem,
foram consideradas apenas amostras com pelo menos um contaminante, excluindo-se
então a opção de nenhuma contaminação. Vale lembrar que um mesmo resíduo pode
ter incidência de mais de um contaminante e a porcentagem individual é em
relação ao número de contaminações encontradas, sendo que o total de
contaminações registradas foi de 456, nas 246 amostras.
Nota-se que
argamassa e pinos metálicos juntos são responsáveis por mais da metade das
contaminações. Seria ideal a remoção desses contaminantes antes da destinação
final. Mesmo em olarias, destinação usual, os pinos metálicos se apresentam
como um empecilho, pois, previamente à queima, a madeira passa muitas vezes por
um processo de trituração e os pinos metálicos podem eventualmente danificar os
equipamentos.
Outro ponto que se
soma à questão é que 18% dos resíduos analisados apresentaram desmoldantes,
vernizes ou tintas. Alguns desses produtos encontrados no mercado apresentam
substâncias tóxicas à inalação (respaldadas por suas Fichas de Informação de
Segurança de Produtos Químicos - FISPQs), o que deveria trazer maiores
preocupações quanto à destinação final, especialmente no que concerne à sua
queima. Essas informações reforçam a tese de que o controle para descarte dos
resíduos contaminados com desmoldantes deveria ser mais rígido.
Um fato relacionado
às olarias que deve ser ressaltado é que algumas destas ainda não possuem
tratamento ou filtros para controle da poluição do ar ou riscos ocupacionais
associados, o que pode acarretar danos ao meio ambiente e ao trabalhador.
Regulamentos e normas deveriam ser estabelecidos no sentido de disciplinar a
matéria.
Figura 3 - Incidência dos
contaminantes nas amostras
|
Outro problema que
deveria ser corrigido é em relação à reutilização de paletes. Entre as seis
obras pesquisadas, apenas uma afirmou a devolução de paletes em bom estado de
conservação para posterior reutilização. As demais os descartavam.
Outro fator
verificado foi que em quatro das seis obras visitadas não havia um engenheiro
responsável ou um profissional qualificado para atuar no gerenciamento de
resíduos, sendo essa responsabilidade repassada ao estagiário de engenharia,
entre suas diversas funções. Após análise de todos os fatores envolvidos,
conclui-se que há urgência na criação de regulamentações mais rígidas para
descartes de resíduos de madeira em obras.
Conclusão
O cenário encontrado nas obras utilizadas para a análise foi similar. Os contaminantes mais encontrados nos resíduos foram argamassa e pinos metálicos, somando 59% das amostras analisadas. Substâncias que podem ser tóxicas ou prejudiciais se inaladas, como tintas e desmoldantes, foram encontradas em 18% das amostras, o que representa um valor significativo. Em cinco das seis obras não há a reutilização de paletes, e em quatro delas não havia profissional qualificado responsável pelo gerenciamento de resíduos.
O cenário encontrado nas obras utilizadas para a análise foi similar. Os contaminantes mais encontrados nos resíduos foram argamassa e pinos metálicos, somando 59% das amostras analisadas. Substâncias que podem ser tóxicas ou prejudiciais se inaladas, como tintas e desmoldantes, foram encontradas em 18% das amostras, o que representa um valor significativo. Em cinco das seis obras não há a reutilização de paletes, e em quatro delas não havia profissional qualificado responsável pelo gerenciamento de resíduos.
Aos resíduos de
madeira não é dada a importância devida e, na maioria dos casos, até o descarte
inicial na obra é feito de maneira dispersa e sem cuidados. Em 100% das obras
analisadas a destinação final utilizada para madeira é a olaria, que se revelou
inadequada ao meio ambiente e à saúde do trabalhador.
Os órgãos de
fiscalização precisam estar atentos a essa questão, buscando verificar a
suficiência e eficiência dos equipamentos de controle de poluição de áreas que
recebem resíduos de madeira, especialmente aqueles que utilizam tais resíduos
para queima.
Para melhoria do
quadro, seria necessária mudança de atitude por parte de construtoras e agentes
de fiscalização, na adoção de formas diversas de descarte desses resíduos. A
verificação periódica do sistema de gerenciamento de resíduos por técnico
habilitado mostra-se também urgente. Seriam necessários esforços adicionais na
segregação dos resíduos de madeira nos canteiros, com a subclassificação destes
segundo seus potenciais destinos finais. Contudo, isso possivelmente oneraria,
num primeiro momento, as construtoras, mas certamente acarretaria benefícios
ambientais.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Análise da
Contaminação em Resíduos de Madeira na Construção Civil. Lopes, F. P.; Pereira, P. M.; Hamaya, R. M. Trabalho de Conclusão de
Curso. Curso de Engenharia da Produção Civil. Universidade Tecnológica Federal
do Paraná UTFPR. Curitiba, 2013. 85p.
A Reciclagem de
Resíduos de Construção e Demolição no Brasil: 1986-2008. Miranda, L. F. R.; Ângulo, S. C.; Careli, E. D. Ambiente Construído,
Porto Alegre, 2009. p.57-71.
Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - Abrelpe. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/
panorama2011.pdf>Acesso em: 16 abr. 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário